Sabe por que?
Porque eu não estava em casa.
E sabe onde eu fui?
Fui defender meus ideais. Talvez, mais do que isso, fui ME POSICIONAR. E explico.
Explico porque as pessoas que me conhecem me olham espantadas diante das evidências de minhas inclinações políticas (se é que dá para chamar de inclinações políticas…) e fico achando que preciso DIZER ALGO que as faça entender. Explico também porque, independente de me conhecer ou não, neste momento, por alguma razão, na vida de modo geral, tenho sentido a necessidade de me posicionar. PRECISO que as pessoas que convivem comigo SAIBAM o que penso sobre as coisas. Preciso, inclusive, dar a elas a chance de se aproximar de mim pelo que sou, ou se afastar, pelo mesmo motivo.
Fui à Avenida Paulista ontem. Na manifestação em favor da democracia. E tenho imensa dificuldade em falar em política. Por isso, não darei conta de escrever um texto articulado. Seguem “retalhos” do que penso.
Não, não tenho certeza que o sistema democrático seja o melhor sistema de governo.
SIM, TENHO CERTEZA QUE A DITADURA É O PIOR.
Sim, com base em nossa história, acredito que a democracia deva ser preservada.
Sim, sinto PAVOR em pensar em um golpe militar. Embora não tenha vivido a década de 60 e embora tenha nascido na década de 70, era ainda criança na ocasião das diretas já. Então, como muitos de vocês que passam por este blog, só li e vi em filmes o que de fato foi a ditadura neste país. Ontem, fui lá gritar “não vai ter golpe”, justo por isso.
Não, não acredito que Dilma Rousseff seja a melhor presidenta que o pais já teve. Entretanto, votei nela 2 vezes. Na primeira, por acreditar que poderia ser uma excelente presidenta (a primeira mulher nesse cargo!). Na segunda vez, por não acreditar que havia opção mais interessante e menos corrupta do que ela.
Sim, ainda acredito nisso. Acredito, não: vejo. De onde vejo, vejo que ela é a presidenta menos corrupta que o pais já teve (junto de Lula, claro).
Sim acredito que Lula foi o melhor presidente que o país já teve. E votei nele 2 vezes. Nas duas, por acreditar. E por ver. Sim, votarei nele novamente se ele se candidatar. A qualquer cargo.
Não, não posso dizer que sou petista. De onde eu vejo, não conheço partidos políticos o suficiente para dizer que um e apenas um deles me representa. Só por isso, não me considero petista. Mas o que ouço de políticos de ESQUERDA dentro e fora deste país, muitas vezes, me representa. Gosto de pensar que tenho compatibilidade intelectual com as ideias e ideais de esquerda.
Sim, muitas das pessoas que admiro, de meus círculos sociais, que estão aí na mídia de alguma maneira, líderes de outros países, escritores, intelectuais, são de esquerda. E é muito fácil ser influenciado por quem admiramos eu acho. Bebo, com prazer, do que essas pessoas dizem, escrevem, fazem.
A cor vermelha é a cor da esquerda. Assim vejo. Por isso, no dia em que algumas pessoas usaram preto, para representar luto nessa semana que passou, eu usei vermelho. Novamente, para me posicionar contra as manobras ilegais de políticos e outros personagens de direita.
Ontem, na manifestação, usei branco. Branco de paz. Branco porque tenho críticas ao atual governo, mas não odeio a Presidenta Dilma (pelo contrário, a admiro). Branco porque não me considero petista, embora admire o ex-presidente Lula (e adorei ouvi-lo ao vivo pela primeira vez – não deu pra ver, tinha quilômetros de pessoas na minha frente…). Branco porque estava com um pouco de medo da polícia também e pensei, na pior, me faço de desentendida ou tento passar desapercebida, tipo, fantasma…de branco. Pavor de militares.
Sim, eu sei que ter medo de sair de casa com uma determinada cor de roupa é indício evidente de que há fascismo “no ar”. E fascismo não cabe em um sistema democrático de governo. Portanto, deve ser combatido. De que jeito posso combatê-lo? Na próxima vez, por exemplo, usar vermelho.
Não, eu não assisto à globo. Não assisto a globo desde que tenho uma televisão para chamar de minha. Desde que não moro mais na casa dos meus pais. POR OPÇÃO. Gosto de pensar nisso como “opção cultural”. Quem decide o que eu assisto no “horário nobre” sou eu. Gosto de variar. Gosto, inclusive, de não ligar a TV no “horário nobre”. Sim, este é o primeiro momento desde que comecei a escrever este texto em que sinto raiva. Ver pessoas sendo manipuladas me dá raiva do manipulador e um pouco de vergonha. Alheia. Acho que é isso que a globo faz. E o que posso dizer sobre o fato de a manipulação do canal mais assistido no país estar vindo à tona é: JÁ NÃO ERA SEM TEMPO. Claro, de onde vejo.
Sim, falar em golpe hoje não significa apenas golpe militar. É golpe o que a mídia convencional tem feito ao manipular o que apresenta como conteúdo de seus telejornais e matérias impressas de modo a criar uma história que atende aos interesses de um determinado grupo, neste caso, a direita do país ou, se preferir, a oposição ao atual governo.
Sim, acredito que promover o impeachment da presidenta Dilma é golpe forjado. Simplesmente porque fere a constituição. Simplesmente porque ela não cometeu nenhum crime que justifique um impeachment.
Sim, ontem participei de um ato político. Me parece que vi, ouvi, li nos cartazes coerência. Vi uma pauta. Me parecia que a multidão colorida dali estava conectada por desejos muito semelhantes independente do partido político que as representa, independente de se posicionarem mais para a direita ou para a esquerda, e das críticas que tem sobre o atual governo.
Sim, eu tento ler uma variedade de pontos de vista sobre as questões que estão problematizadas na mídia. Justo porque pra mim, é mais fácil compreender e reproduzir conceitos filosóficos do que conteúdo político. Há um “jogo” nas relações políticas que sempre me parece confuso. Os personagens do cenário político parecem agir sem coerência com muita frequência. Sem a coerência que espero ver quando conheço seus ideais. E sim, fica evidente, quando você sai da “ilha” globo-veja-eafins, que há um mundo de fatos, de intenções, de relações, não explorado por essas mídias. E, sim, prefiro tirar minhas próprias conclusões ao invés de seguir o que a pauta de um único editor dita como REALIDADE. E quando me falta conhecimento ou lógica suficiente para compreender o que leio, procuro uma das pessoas que citei lá no parágrafo sobre PENSAMENTO DE ESQUERDA. Aquelas, cujo jeito de pensar e compreender a realidade faz sentido pra mim. Mas, de novo, esse “método” de buscar sentidos é particular. Estou, assim como qualquer pessoa, falando de um lugar.
Sim, estou defendendo a democracia e para ser coerente, é claro que acho que cada um pode ter seus próprios meios para se informar, sem dúvida cada um fala e pensa de UM LUGAR. Acredito que precisamos encontrar meios para conviver a partir e de acordo com nossas diferenças.
E a pergunta que me persegue desde que o que acontece na política neste país invadiu as casas, os grupos de whattsapp, as páginas das redes sociais, sem data para “desinvadir” é: como? Como continuar seguindo no insta aquela instrutora de yoga, zen, que você admira tanto pela prática de yoga que ela apresenta ou a nutricionista que é tão coerente quando levanta a bandeira dos orgânicos, quando você se depara com fotos de ambas defendendo justo aquilo que você não defenderia nunca no atual cenário político? E, mais, repetindo os mesmos discursos de ódio dos quais você foge ao ponto de se desligar das redes sociais e grupos do whattsapp????? Quer dizer, como respeitar as diferenças, quando, aparentemente, algumas são mais fáceis de serem respeitadas do que outras?
Ontem, na manifestação, vi petistas (acho que era o partido político mais representado lá); vi os que faziam questão de não serem confundidos com petistas; pessoas de diversos sindicatos, ongs, União dos Estudantes, Grupo pelo direito das mulheres etc, quer dizer, muita gente que se colocava a partir de um grupo, de uma bandeira. Essas pessoas eram fáceis de identificar, pelo fervor com que, incansavelmente, gritavam, cantavam e agitavam suas bandeiras. Era contagiante e nos víamos “engrossando” o coro junto delas, muitas vezes. Além desses, muitos outros que, como eu, não pareciam partidários a nenhum grupo específico. Aparentemente sem uma bandeira (alguns carregavam a do Brasil), sem um sindicato ou ong pelo qual falavam. Alguns pareciam empresários, tinha artistas (ao nosso lado estava o pessoal do Porta dos Fundos, por exemplo), estudantes, crianças, trabalhadores dos mais diversos eixos que só conseguiram chegar após as 17h, enfim, um cenário absolutamente múltiplo. Milhares de pessoas com histórias e desejos completamente diferentes, porém, foi lá, nessa experiência “bagunçada”, diversa e sonora, que comecei a vislumbrar uma resposta para a pergunta do parágrafo anterior.
Não, não sou tão politizada quanto gostaria de ser. Mas me parece que além de suas causas pessoais, causas das bandeiras que carregavam, o que a maioria das pessoas carregou ontem para a rua foi um desejo comum: manter a democracia. Lutar por ela, eu acredito.
E, diante da possibilidade de perda desse direito conquistado há tão pouco tempo, porém em meio a tanto sangue, ao defenderem juntos o que a todos parece ser o que precisa ser defendido agora, todas as outras pautas pareceram menores e passiveis de ser negociadas, independente do lugar de onde cada um fala, pensa, age ou qual bandeira tem em mãos.
Ingenuidade minha? Talvez. Mas talvez, o que falte seja justamente isso: cabeça fria para IDENTIFICAR o que de fato merece a luta. O que de fato está em perigo. O que está em jogo.
Acordei hoje com uma imensa sensação de dever cumprido. Fui lá e fiz número. Ajudei a lotar a maior avenida deste país. Vi com meus próprios olhos como ela estava lotada – andei nela (lotada) de cabo a rabo. E deixei claro que de onde vejo e a partir do que vejo, só merece LUTA a democracia. Merece defesa, quem a defende.
Se você não viu muito sobre essa manifestação, que não aconteceu só em São Paulo, aconteceu em TODO BRASIL, um jeito de se informar é visitar a página de quem convocou a manifestação (Frente Brasil Popular), outro é procurar imagens postadas por quem estava lá. Procure pelas # abaixo.
#nãovaitergolpe
#VemPraDemocracia
#todospelademocracia